quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Inverno

Gemem os arvoredos
E as pedras também.
É o Inverno das fomes e dos medos,
Das ânseas e das dôres,
É o Inverno nos Açores

O vendaval além vai gritando,
Fustigando,
Os corpos cerados.
E da alma das gentes
Vão surgindo preces
De lábios que se movem,
E vão rezando

A bruma vai cobrindo,
E o dia indo.
De oeste a ventania não se cansa,
Fazendo da "morte" a sua herança.
E o Pico lá longe
Vai-se escondendo,
Na maresia alva de sal,
Que se aleiva na calva do Canal.
Pelos fios sopra o vento, arrulhando
E quem passa na rua,
Vai-se curvando

E é no remanso do pequeno lar
Que fico pensando,
No frio que no mundo vai grassando,
E no pão que falta a tanta gente;
E nos Invernos que tantos vão calando,
E nos peitos que se vão dilacerando.

É que para uns a vida é mesmo Inverno,
Com ventos, chuvas e frios de rachar
Enquanto que para outros pode ser cómodo Estio
Ou mesmo Primavera de embalar...
Humberto Moura
Jan. de 1996

2 comentários:

  1. Caro Sr.
    É com muito gosto que leio os seus textos de uma simplicidade tão humana. É com uma identificação pessoal, que me regalo com cada sua ideia... Os meus sinceros parabéns, e os votos de uma prolongada inspiração pelas letras... Abraço Fraterno
    João de Jesus

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  2. Muito lhe agradeco. Um bem haja em nome do pensamento e da Vida.

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