sábado, 27 de abril de 2013

A MENSAGEM DE ABRIL

Já lá vão 39 anos. Tinha eu trabalhado durante essa memorável noite, naquilo que era a Estação Telegráfica da Horta, uma "coisa" que desapareceu como tantas, até às 0800 horas e vinha de regresso a casa. Pelo caminho encontrei velho amigo, homem também de lides jornalisticas, de escritos e rebiscos, que me pôs ao corrernte da situação: "...ainda não se sabia lá muito bem, mas ocorrera qualquer coisa lá por fora". "Que vingasse", fora logo o nosso slogan e desejo. Haviam já ocorrido tantas outras tentativas em períodos anteriores, sem sucesso. Aquilo de salazarismo, era mesmo duro de roer ou de se lhe tirar o chapéu... "Vamos aguardar para ver..." E apartàmo-nos, cada qual para seu lado. À nossa maneira, éramos gente do contra. E ser do contra, era algo incómodo, até perigoso e mal entendido. Por vezes surgiam os contratempos os passarinhos, os bufos, os passarões, na paz silvana do pequeno burgo. Depois foi a alegria. Tínhamos conseguido a Liberdade, sim senhor! E a houve festança e um "vê-se-te-avias". E os partidos surgiram, cada qual exibindo na lapela a sua mais genuina ideologia ou a sui-generis. Encheu-se a boca da palavra Democracia - o poder do Povo. Falou-se em igualdade e em fraternidade. E houve até agitação nas ruas. E surgiram os sindicatos, uns melhores e mais activos apetrechados do que outros, reivindicando cada qual para seu lado. E houve outros e outras intentonas e pinochadas. E houve promoções e despromoções no MFA. E houve bons e maus da fita, de um e outro lado. E uns governaram-se mais do que outros. Com confusão e alguma desorientação pelo meio. Mas tínhámos conseguido a Democracia e a Liberdade e sobretudo acabado com aquela execranda guerra colonial que fez com que muita gente do meu tempo, ficasse semeada pelos ultramares e não mais voltasse. Mas como em tudo, o tempo foi amolecendo o ideário, que presidiu à revolução dos cravos e que era BOM, e que bem podia ser mais acadêmico do que político, e foi-se lentamente encaminhando para um 26, no esquecimento. Vieram novas gerações, que entraram para a política ou a maltrataram, e ao ideário do 25 de Abril, foi-se dizendo : Nada. Se calhar desconheciam-no, na intenção, no conteúdo ou na globalidade. Hoje (salva-se ou lamenta-se) o país está politizado, de cima para baixo. Não há instituição que se preze, de não ter uma pitada de política nas suas hostes. Tal como no futebol, a paixão virou normalidade. E entrámos de novo na desorientação e no desnorte. Desta vez, o desnorte é económico, com uma pitada de incompetência à mistura. A própria UE com o seu sonho, e o conceito de globalização, deram o empurrão, que se calhar, não era, nem é o aconselhável ou o desejável. Hoje, como alguém sabiamente disse, alguém que deu o salto, antes que a barca se afundasse, estamos de tanga. E o pior, é que ninguém sabe tirar a tanga, arregaçar a manga ou pôr o pé a fundo no acelerador) e dizer, basta ou vamos daqui ou por aqui. Sabem, sim senhor, e está mais que visto, é tirar o pão de quem o tem bem pouco, ou dar-lhe de pinça ou a conta-gotas, na expectativa (ou na certeza), de que até os sem abrigo, também vão sobrevivendo...

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