domingo, 19 de novembro de 2017

O ÚLTIMO SORRISO

Toda a vida (e a vida toda), rabisquei, para jornais, livros, até revistas, ideias e pensamentos.
Escrevi e rabisquei em tudo e de tudo,  naquilo em que se podia escrever ou  "borrar" de tinta.
Falei e escrevi, (bem e mal), das pessoas e das coisas, em tempos  difíceis e  ocasiões menos "oportunas", que me tornaram a caminhada algumas vezes, mais íngreme e menos suave e atraente.
Tentei por esse facto,  perceber e entender melhor  a vida (a minha e a dos outros), aproveitando ou rejeitando, aquilo que ela  e eles, podiam oferecer  de bom ou de  "menos mau", um lema que cultivo,  sigo e sempre segui, aquele, em  que há sempre algo  aproveitável, em cada um que a este mundo vem ou é "atirado", mesmo que seja por obrigação ou "engano".
 Fui  até declarado algumas vezes, uma espécie de "marginal" e  um solitário avulso, mas nunca, nem me senti só, nem sequer marginalizado, bem pelo contrário, sempre integrado na comunidade, embora criticando-a por dentro, quando necessário, sugerindo e apresentando caminhos e soluções, e mais do que tudo, fui um homem feliz, que fez e disse o que quis, por vezes até o que  pôde ou aquilo que, advertida ou inadvertidamente deixaram.
Uma vida inteira "cheia" e simultaneamente "vazia", em que as esperanças, eventualmente falharam, mas nunca faltaram.
Mas, foi  ao surgirem  apenas dezassete anos para a centúria, que esbarrei, no maior, mais cruel, e mais difícil, escolho  minha vida: a doença e  morte da companheira, da mulher e esposa, confidente e amiga,  Maria Antonieta de seu nome. E isto, porque  foi ela provavelmente a pessoa que mais amei na vida. Que mais respeito me incutiu. Que mais me ajudou. Que me tornou a própria vida, um sonho bom.    Que nunca me exigiu nada e que  me deu tudo.
E foi numa vulgar mas  fatídica madrugada, de uma sexta feira dia 8 de Setembro de 2017, pouco faltando para a seis  da madrugada, que me chamaram do Hospital da Horta, a dizer que a noite correra mal para ela e  se  desejava vê-la...
Cheguei alguns minutos depois.
Abriu então os olhos, tão belos como os conheci 60  anos antes na primeira vez, olhou-me demoradamente num sorriso, como que a confirmar todo o nosso sonho de amor, e assim se ficou naquele sorriso que tanto havíamos partilhado  vida fora, desta vez, num sorriso para sempre.
E eu deixei de sorrir...também para sempre


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