Toda a vida (e a vida toda), rabisquei, para jornais, livros, até revistas, ideias e pensamentos.
Escrevi e rabisquei em tudo e de tudo, naquilo em que se podia escrever ou "borrar" de tinta.
Falei e escrevi, (bem e mal), das pessoas e das coisas, em tempos difíceis e ocasiões menos "oportunas", que me tornaram a caminhada algumas vezes, mais íngreme e menos suave e atraente.
Tentei por esse facto, perceber e entender melhor a vida (a minha e a dos outros), aproveitando ou rejeitando, aquilo que ela e eles, podiam oferecer de bom ou de "menos mau", um lema que cultivo, sigo e sempre segui, aquele, em que há sempre algo aproveitável, em cada um que a este mundo vem ou é "atirado", mesmo que seja por obrigação ou "engano".
Fui até declarado algumas vezes, uma espécie de "marginal" e um solitário avulso, mas nunca, nem me senti só, nem sequer marginalizado, bem pelo contrário, sempre integrado na comunidade, embora criticando-a por dentro, quando necessário, sugerindo e apresentando caminhos e soluções, e mais do que tudo, fui um homem feliz, que fez e disse o que quis, por vezes até o que pôde ou aquilo que, advertida ou inadvertidamente deixaram.
Uma vida inteira "cheia" e simultaneamente "vazia", em que as esperanças, eventualmente falharam, mas nunca faltaram.
Mas, foi ao surgirem apenas dezassete anos para a centúria, que esbarrei, no maior, mais cruel, e mais difícil, escolho minha vida: a doença e morte da companheira, da mulher e esposa, confidente e amiga, Maria Antonieta de seu nome. E isto, porque foi ela provavelmente a pessoa que mais amei na vida. Que mais respeito me incutiu. Que mais me ajudou. Que me tornou a própria vida, um sonho bom. Que nunca me exigiu nada e que me deu tudo.
E foi numa vulgar mas fatídica madrugada, de uma sexta feira dia 8 de Setembro de 2017, pouco faltando para a seis da madrugada, que me chamaram do Hospital da Horta, a dizer que a noite correra mal para ela e se desejava vê-la...
Cheguei alguns minutos depois.
Abriu então os olhos, tão belos como os conheci 60 anos antes na primeira vez, olhou-me demoradamente num sorriso, como que a confirmar todo o nosso sonho de amor, e assim se ficou naquele sorriso que tanto havíamos partilhado vida fora, desta vez, num sorriso para sempre.
E eu deixei de sorrir...também para sempre
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