domingo, 24 de setembro de 2017

Hoje terei passado por um dos mais tristes momentos da minha vida.
Tentei encontrar  conforto naquilo que há muito não conseguia  - na celebração de uma eucaristia (missa),  na igreja das Angústias, igreja que minha saudosa mulher, frequentava assiduamente.
Foi-me impedido durante três anos, de o fazer, dada a incapacidade a que chegara: era uma crente e uma praticante rigorosa.
Uma tristeza e uma saudade imensa, invadiram-me   a alma,  ao recordar os  57 anos que separavam o que naquele altar acontecera: o nosso casamento.Tal como agora e à mesma hora,  num domingo 24 de Setembro mas de 1961, eu e ela ali estávamos, provávelmente no dia mais feliz das nossas vidas.
E  recordei o velhinho Mons. Medeiros, que Deus já lá tem, na sua melodiosa prédica de aconselhamento e união. E recordei a voz do orgão, "tangido" pelas mãos hábeis  do prof. Barreiros, numa aleluia de Gounot. E recordei  os amigos. Os acompanhantes e que eram muitos. Todo o séquito, os pais da noiva felizes tal como ela. E rebobinei  toda a alegre magia daquele acto,  todo o alcance infindo daquele  sonho, todo  todo o seu doce simbolismo.
E uma tristeza imensa  invadiu-me ainda mais. Apenas quinze dias antes,  ainda estava viva. E agora já não estava. Partira para não mais voltar. Para não mais se recordar da felicidade daquele e de outros momentos que aconteceram ao longo da nossa vida
E olhei em redor e enconteri-me desamparado, triste e só. Tinha deixado tudo por ela e ela fugira para tão longe e para sempre.
Queria vê-la. Mas não consegui.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

ABANDONADOS OS DOENTES DE PARKINSON? QUE FAZER?

Os últinos vinte anos da minha vida,  foram passados ao lado de minha mulher, (a mulher da minha vida), portadora de um doença neurológhica, a chamada Doença ou Sídrome  de Parkinson.
Não vou dizer o que é, ou o que foi essa experiência, porque não iriam acreditar. Eu próprio o diria, se mo perguntassem. Quedas diárias, algumas bastante graves; não dormir durante longas noites e durante anos, ter de "ajeitar"  corpo,   lençóis e  cobertores, ou mudá-los simplesmente. Não comer ou comer aos sobressaltos.  Vestir, despir, colocar na cama, mudar fraldas. Dar banho, hidratar continuamente tudo o que se revestisse de pele.  Pôr as refeições na boca (enquanto é ou foi possível),   e por fim, nem a boca se abre do doente para as receber. Ter de acudir às "necessidades" primárias. Ter de interromper o banho, para socorrer o doente que ameça estatelar-se no chão, quando se suponha já estar já dormindo. Superar a imensa dificuldade em administar medicamentos, (uma panóplia, que vai     de carbidopa, a levadopa, passando por amandatina e um outro sem número de  drogas, altamente tóxicas e nocivas para os orgãos, rins, fígado, etc.) que vão  aumentando à medida  que a degeneração avança (a doença de Parkinson é uma doença degenarativa). A despersonalização e o desinteresse pelo ambiente que   rodeia o doente,  vai tomando conta do cérebro e surge a demência, e o sofrimento constante, os gemidos, a dor  lancinante e constante, proveniente dos inúmeros  acidentes (pernas partidas, depois paralisadas,  escoriações e contusões, etc). As noites são longas e sem fim, e a agitação, sobretudo de pernas e  corpo, dão um desgaste impossível de descrever.A par de tudo isso, o epítete de doença incurável e  degenarativa, vai minando negativamente todos os que rodeiam   o doente e ele próprio.
Existem apenas"paliativos , que são administrados com  a  regularidade  possível (chegam a ser tomados de  hora a hora em doses reduzidas) mas ao fim de um tempo, deixam de responder ou seja, deixam de fazer qualquer efeito.
A incapacidade, torna-se total sobretudo quando existe o chamado estado (OFF). Sabe-se que vive apenas , porque respira.
A medicina não consegue, nem entender, nem responder. O pessoal de saúde, enfermeiros sobretudo,  até médicos da própria especialidade, dão em"fugir", como o "diabo da cruz" e fazem pequenas crueldades como amarrar pulsos e braços, quando a "coisa" dá para o torto, já que a agitação pode eventualmente ser imensa. É uma forma cruel de "descalçar" a bota. Aí havia muito a falar...e a responsabilizar, até porque se trata de uma doença  em que o carinho e a compreensão, fazem parte da atenuação dos sintomas, única acção possível e concretizável
Tudo porque a área da saúde desconhece total e completamente a doença, mesmo nos dias que vão correndo.E o pior:  Muita ignorância, gera muita certeza. Ninguém consegue "entrar" nessa maldita doença. Lembra-nos a Lepra de outros tempos.Podemos mesmo dizer, que esta e o Alzheimer  é a Lepra dos dias vão correndo  e dos tempos mais modernos.
Por fim, há o reflexo dos milhares de comprimidos tomados no dia-a-dia: aaí,  falham os rins, o fígado, o coração, o estômago, os orgãos vitais. E morre-se finalmente depois de tanto sofrimento: às vezes, anos de sofrimento.
Entretando o longo percurso da dor, do desalento, vai sendo "rendilhado" de revolta, da visão das recordações do passado,  da interrogação de "morrer? Quando? E de outra: para quê viver...?
E ainda de outra: é uma doença rara?Ainda é, mas está deixando de ser. Pensa-se que daqui por vinte anos, não será. Hoje são vinte ou trinta  milhões, Dentro de dez ou vinte anos, triplicará.
Até lá, (pelo menos por estes lados, Açores em em Porugal, em que a saúde nessa área, não é levada muito  a sério),  vão-se abandonando os doentes de Parkinson, apenas (e de quando em vez) lançando-lhe o epítete de "coitado".
Há dinheiro para tanta coisa. Para dar, roubar e vender, e não há para isto?
É caso para perguntar, se as doenças crónicas, incapacitantes, que dão muito dinheiro, devem ser "acauteladas" para que não haja mais crise?
Aqui fica a pergunta
A realidade é que os doentes de Parkinson  estão abandonados ao seu terrível destino- morrer em dor e desalento, mal acompanhados, mal compreendidos, mal apoiados, sofrendo terrivelmente cada minuto que passa, sem quaisquer apoios e sem indicios ou prespectivas, quer de alivio dos sintomas, quer da cura almejada que não se divisa e chega
.
Esse desinteresse, e/ou essa falta  de compreensão,  essee fracasso e essa lacuna brutal por parte das instituições e entidades ligadas às plíticas da  saúde,  à própria mentalidade que se alcandorou nos próprios profissionais, deixam um sarro amargo vindo de outras eras, tempos em que a lepra, que quando detecatada punha o homo sapiens a fugir a toda a força.E mais, o ruir de toda uma ciência, que se chama medicina, que vai evoluindo mas muito pouco, com escolhos bem visíveis e evidentes