quarta-feira, 12 de abril de 2023

Caro amigo Humberto Desculpe o atraso desta resposta-avalição em referência ao seu romance “SISMO NA MADRUGADA”. Aqui vão as minhas impressões muito pessoais, sem intenção de fazer crítica literária em forma de recensão bibliográfica. A temática de fundo é sem dúvida de alcance arquetípo-universal: a busca do herói pela felicidade e o sentido de vida, partindo da pequena ilha para o universo e a ela regressando no final de vida. A “saga” de Quevedo impressiona, não só pela conquista individual mas também porque se projecta num amplo contexto global: o século XX e a sua conturbada história sócio-política ocidental. Como emigrante, na diáspora do espaço e do tempo, identifico-me perfeitamente com a obra que ressoa profundamente no meu projecto de vida cristã e humana. A viagem cósmica do herói-ilheu faz também lembrar “mutatis mutandis” ou por outras palavras, as andanças épicas da antiguidade e da modernidade. A trama ou enredo em geral, apesar de algumas falhas de verosimilhança aqui ou ali, arquitectados. As diferentes cenas narrativas fluem com muito agrado para o leitor devido ao interesse dramático pessoal, emocional, informativo, regional, e universal. A sequência de enredos desperta um interesse tal, que leva a voltar cada página com entusiasmo renovado. O narrador soube criar autentico “suspense”. A galeria das personagens também impressiona, pela quantidade e qualidade. Tanto a personagem central como alguns outros apresentam uma multiplicidade de facetas e cosmovisão que os tornam “ round characters” ou personagens que ressaltam da escrita como seres vivos e autênticos. Aqui vai um reparo negativo: não perece verosímil, pelo menos da minha experiência de imigrante, que uma personagem em tão pouco “tempo narrativo”, possa alcançar (tal fluência e tal linguística) capaz de publicar “best sellers” em línguas estrangeiras. Claro que há sempre excepções e génios e o narrador tem o direito de os conceber. A linguagem utilizada destaca-se também pela alta quantidade e sobretudo pela capacidade qualitativa de recriar ambientes exteriores e interiores, dramatização de cenas, vivências psicológicas e comunitárias de cenas, de suscitar emoções e ambientes de poesia, com a utilização de metáforas e alegorias. O vocabulário flui abundante, límpido, circunstancial e aliciante. Aqui vai mais um reparo. Todo o livro precisa uma revisão da pontuação. Imagino que uma edição de autor não beneficia de tal correcção. Como professor de línguas estrangeiras estas observações são me peculiares, porém, o livro, é como já lhe disse, uma obra digna de edição por uma casa editorial e não apenas uma simples edição de autor. Os meus sinceros parabéns por Deus lhe ter concedido talento, tempo disponível e perseverança pessoal para abalançar-se a uma empresa de tal fôlego e envergadura. Um grande abraço de amizade Seu admirador de longe Heraldo