QUANDO AS LETRAS SÃO IMAGENS
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
domingo, 20 de novembro de 2011
À HORA EM QUE OS PÁSSAROS CANTAM MADRIGAIS À SUA AMADA.
Esta noite sonhei alto, acordado, à hora em que os pássaros cantam madrigais à sua amada. E o que sonhei, não lhes vou contar, porque sei que não gostam de perder tempo, principalmente com palavras ôcas, ou idéias loucas...Porque essas quando acontecem, merecem orelhas moucas...Basta-nos a Internet ou a conversa fiada de alguns políticos da praça e até de alguns autores, que nem sequer são escritores, porque estes em boa hora, já são bem raros, quando não têm a cara tapada...Ou não aparecem por detrás dos écrans bem pagos, da nossa redentora e apreciada TV.
E de tudo isto, colhi e retirei ensinamentos e algumas contradições... Que por exemplo, a grande gesta portuguesa, nem sequer foi a assegurada pelos descobridores ou pelos descobrimentos. A maior, foi indubitavelmente a construção da sua língua, porque essa, além de rica, é falada no espaço imenso que os portugueses criaram ou foram a isso obrigados(?).
É aí que as primeiras iniciativas, de espalhar, um incipiente galaico-português, foram projectadas em mar aberto, em regiões insulares, que continuam curiosasmente portuguesas, no meio de um Atlântico salgado, que, segundo doutas ou iníquas opiniões, une (?) mais do que separa.
Estou a falar por exemplo, dos arquipélagos dos Açores e da Madeira, sobretudo do arquipélago dos Açores.
E o que vejo, dá-me vontade para rir. Ou melhor, vontade para ficar indignado. Isto porque, mesmo com os atempados relatos dos Gamas e dos Cabrais e de outros que tais, continuam tão desconhecidos como no tempo do seu achamento, que é suposto ter sido por volta de 1427.
E porque a língua une, e porque a cultura aproxima, segundo alguns e porque a igualdade suporta isto que se está a tornar numa balda e que se chama Democracia, fico a pensar, quando vejo o que se passa à minha volta, mais concretamente em termos culturais, que o mundo português é-, Lisboa e algum Continente-, e que o resto fica deliberadamente à mercê de um apagão. Estou a falar por exemplo, de eventos culturais (lançamento de livros, peças de teatro, música etc. etc) , quando os das antigas chamadas colónias, vêm à ribalta e a rôdos, com todos os seus contornos e movimentos bem artilhados na comunicação social. É que a comunicação social açoriana afoga-se com a distância...São mil e seiscentos quilómetros de mar...
Mas será por isso, que os escribas dessas plagas, são melhores ou mais bem apetrechados do que os nossos? Será que todo este circuito infernal ou comercial do livro e de outras minudências e formas de arte ou de cultura, está mais desimpedido para aquele lado? Que os orgãos de divulgação, ficam hirtos, parados a meio do canal, mesmo sendo Portugal um país com vocação atlântica? Que se escreve ou fala pior? Ou não será porque os Açores continuam com a condição de "ilhas adjacentes" como no tempo da outra senhora?
Será até que a minha insignificante costela lusitana, surgiu de outro quadrante que não o de Portugal? Ou que a solidão, aquilo que alguém cognominou de insularidade, ou outra mal-querença qualquer surgida ao longo do tempo, agora mais atenuada (?), deu-me acesso ao estranho estatuto de alguém autorizado a pensar?
Quem me empreste uma opinião ou me dê uma dica...Estou a ficar farto...
E de tudo isto, colhi e retirei ensinamentos e algumas contradições... Que por exemplo, a grande gesta portuguesa, nem sequer foi a assegurada pelos descobridores ou pelos descobrimentos. A maior, foi indubitavelmente a construção da sua língua, porque essa, além de rica, é falada no espaço imenso que os portugueses criaram ou foram a isso obrigados(?).
É aí que as primeiras iniciativas, de espalhar, um incipiente galaico-português, foram projectadas em mar aberto, em regiões insulares, que continuam curiosasmente portuguesas, no meio de um Atlântico salgado, que, segundo doutas ou iníquas opiniões, une (?) mais do que separa.
Estou a falar por exemplo, dos arquipélagos dos Açores e da Madeira, sobretudo do arquipélago dos Açores.
E o que vejo, dá-me vontade para rir. Ou melhor, vontade para ficar indignado. Isto porque, mesmo com os atempados relatos dos Gamas e dos Cabrais e de outros que tais, continuam tão desconhecidos como no tempo do seu achamento, que é suposto ter sido por volta de 1427.
E porque a língua une, e porque a cultura aproxima, segundo alguns e porque a igualdade suporta isto que se está a tornar numa balda e que se chama Democracia, fico a pensar, quando vejo o que se passa à minha volta, mais concretamente em termos culturais, que o mundo português é-, Lisboa e algum Continente-, e que o resto fica deliberadamente à mercê de um apagão. Estou a falar por exemplo, de eventos culturais (lançamento de livros, peças de teatro, música etc. etc) , quando os das antigas chamadas colónias, vêm à ribalta e a rôdos, com todos os seus contornos e movimentos bem artilhados na comunicação social. É que a comunicação social açoriana afoga-se com a distância...São mil e seiscentos quilómetros de mar...
Mas será por isso, que os escribas dessas plagas, são melhores ou mais bem apetrechados do que os nossos? Será que todo este circuito infernal ou comercial do livro e de outras minudências e formas de arte ou de cultura, está mais desimpedido para aquele lado? Que os orgãos de divulgação, ficam hirtos, parados a meio do canal, mesmo sendo Portugal um país com vocação atlântica? Que se escreve ou fala pior? Ou não será porque os Açores continuam com a condição de "ilhas adjacentes" como no tempo da outra senhora?
Será até que a minha insignificante costela lusitana, surgiu de outro quadrante que não o de Portugal? Ou que a solidão, aquilo que alguém cognominou de insularidade, ou outra mal-querença qualquer surgida ao longo do tempo, agora mais atenuada (?), deu-me acesso ao estranho estatuto de alguém autorizado a pensar?
Quem me empreste uma opinião ou me dê uma dica...Estou a ficar farto...
sábado, 5 de novembro de 2011
No Lançamento do livro "SINAIS DE INFINITO - Realidades e Mitos do Nosso Tempo" - Algumas palavras proferidas por HUMBERTO VICTOR MOURA - o Autor
Antes de proferir umas palavras, eu queria aqui deixar um breve esclarecimento.
A interpretação da criação literária, cabe obviamente ao leitor, norteando-se este pelo rumo traçado pelo escritor, embora nem sempre, um ou outro, seja coincidente.
Esta a meu ver, a grande magia da arte e da literatura em particular. Por isso ou talvez por isso, ninguém poderá opor-se ao interessante óbice, que é o de especular se a personagem tal, é aquele que conhecemos. Que o local que pisámos, estará ou não, em consonância com o que o autor criou. Isto porque em ficção literária, tudo ou quase tudo é permitido.
E são os factos em geral, e as pessoas em particular, que insipram e interessam a quem escreve, e a quem as descreve.
Isto para lhes dizer, que das personagens que fruem ao longo do livro "Sinais de Infinito - Realidades e Mitos do Nosso Tempo", por favor não vislumbrem semelhanças com o Dr. João Maria ou com o Dr. Trombas, ambos entendidos farmacêuticos, que viveram nesta cidade: o primeiro, guardador de memórias, maçónico assumido, humanista de quatro costados e homem dado a esoterismos. O segundo, arribado do Continente português, conhecido e admirado por toda a gente com quem diariamente convivia. Nem com Rosa, cozinheira por vocação , e mulher de todo o serviço, nascida ali para os lados da Areia Larga. Ou com o Dr. Silva, jovem médico do Hospital da Horta, inspirador de jovens como ex-atleta de eleição. Ou até com um certo bibliotecário displicente, calvo e anarquista, de nome Pedro de Oliveira, florentino, vivendo exilado nos arredores de Lisboa e pensando eternamente nos Açores. Nem com o sábio padre Ezequias, historiador emérito e pároco de uma igreja desta cidade, muito embora a inspiração exista e esteja lá para vos atormentar, e isto para lhes dizer apenas que não se escreve a partir do nada e que o autor parmanece (mais ou menos) escondido atrás daquilo que escreve.
Porque ao divagarem por este silencioso, delicioso, mas sempre enganoso caminho, poderão ter a sorte (ou sabe-se lá a pouca sorte), de se encontraram também retractados nalguma dessas personagens e no puzzle, que é o livro, tão características, desta pequena terra, personagens que de uma terra assim tão estreita, poderão também aspirar ao panteão dos universais.
Posto esta eviso à navegação, tentarei ser o mais breve possível.
Primeiro: para fugir à tentação de ser juíz em causa própria, algo que me incomoda. Depois, porque o meu velho e bom amigo V..., já o fez com a mestria que lhe conhecemos, talvez com a fasquia elevada, mas sempre de forma coerente e notável...
(...) É que os faialenses têm que aprender e fazer destas coisas, isto é, aprender a gostar de si e a ter presente, aquilo que vulgarmente se chama auto-estima, o que lhes está faltando.
E para a conseguir, é preciso começar a valorizar o que se fez ou o que por aí se vai humildemente fazendo...
A Temática
Como citei, não me cabe, nem me é aceitável especular, o que é, ou o que deveria ter sido o livro. Para tal, existem os ensaístas, homens que vivem escrevendo, bem e mal, de quem e do que se escreve, uma arte recorrente, mas dolorosa, neste país à beira mar plantado, e muito mais nestes Açores de raras leituras e mares por vezes encapelados.
Arte solitária, mas dolorosa a escrita, porque se perde tempo, às vezes dinheiro. Já agora caberia aqui lançar uma olhadela a editoras, distribuidoras e negócios subjacentes à escrita, o que não gosto, já que é misturar dinheiro com arte e cultura, assunto que acho duvidoso...
Optei por uma posição intermédia, a de Miguel Torga, autor de Bichos, que em vida curiosamente, sempre recorreu à solução de "edição de autor"...Ele sabia lá as linhas com que se cozia...
Este por exemplo roubou-me algum tempo (foi iniciado em 2004 e terminou em 2010) e como irão ver, isto é, se se aventurarem a lhe deitar os olhos em cima, mesmo recorrendo a uma certa engenharia gráfica, ultapassa as 420 páginas, incluindo gralhas e imprecisões, sempre presentes em obras desta natureza. E isto, ainda bem, porque perfeição e absoluto não existem, nas pessoas e muito menos nos livros, numa altura em que ela (a literatura) é vendida ao metro, tal como a linguiça dos "bons" e "saudosos" tempos...O velho adágio de que o óptimo é inimigo do bom, tem, mais uma vez, aqui o seu cabimento.
Uma nota curiosa: todo o trabalho gráfico, foi feito no Faial, o que dantes jamais acontecera com anteriores obras do autor.
O livro é uma narrativa de cunho documental e de realidade ficcionada, como aliás se diz no prefácio, apoiando-se o seu autor na memória e na história, e o producto a quem foi dada a oportunidade de nascer e de viver antes da maior guerra alguma vez presenciada, a Segunda Guerra Mundial, e a que terminou há bem pouco no Iraque, e digo isto, porque o livro questiona e explora esse tema, isto é, se a vida não será efémera e se não haverá a possibilidade de a viver mais, para poder também reflectir mais...E porque não, melhor.
E porque é um romance, o enredo começa numa certa manhã chuvosa de Setembro de 1998 no alto do cemitério do Carmo, junto ao "reducto" dos Dabney, com a baía da Horta a rebrilhar ao fundo, e termina uns anos mais tarde, na praia de Porto Pim, lugar mítico, como irão ver, no extremo sul da cidade, um binómio simbólico de Morte-Vida, a convidar à reflexão.
Fala-se muito do Faial e da Horta em particular. Das suas gentes, dos seus anseios e costumes, das suas tradições, e, sobretudo da sua história, (porque este livro, é um livro a pensar na história), que a Horta, honra lhe seja feita, tem para dar e vender. Mas não só: todos os Açores são envolvidos nessa trama e também o Continente português, sobretudo Lisboa. Depois salta-se para o Próximo e Médio Oriente, com a turbulência que se lhe conhece e o protagonismo político de alguns homens, como Bush, Blair, Sadame e outros.
E há todo um mundo que se agita e que aguarda a notícia de uma jornalista inglesa, jovem, bonita e famosa da BBC, de nome Harriet Terra Simpson, neta de uma personagem enigmática, que atravessa os dois últimos romances do autor ("Sismo na Madrugada" e "Sinais de Infinito"), de nome Quevedo, um faialense, que morre na Horta às garras do sismo de 1998. Mas atenção: não do sismo. E verão porquê; ele que atravessara várias guerras como repórter de guerra e que havia sobrevivido à fúria assassina do III Reich de Hitler, Goering e seus sequazes
Buscam-se memórias em Lisboa, Londres e Alexandria, (Egipto), e também um pouco por todo o mundo, seguindo as pisadas de Quevedo, esse avô misterioso e mítico, um avô que terá sido famoso no seu tempo, mas que é completamente desconhecido na terra onde nasceu. Mas o livro não se fica por aqui ou por mais esta ou aquela história. Porque o livro é História e também realidade, ora desfazendo mitos, ora recriando outros, e não só: é todo um vaivém e um questionar permanente, se valerá a pena viver ou viver assim, uma realidade sentida em cada personagem (cidadão anónimo) que surge e que desconhece a sua própria identidade e finalidade de viver.
E desse questionar surge outro homem, um homem que se identifica, não como o sublime producto da Criação, mas como o maior predador da Terra.
E é nesse sentido que o livro se articula. De como, depois de alcançar e conseguir as magias que lhe podem garantir a felicidade, ele consegue-a apenas artificalmente, mas sempre à custa da dor de uma, ou de outra vida, ou de mais um, ou de outro sacrificio do seu próprio semelhante.
Quatro ou cinco personagens constituem-se como arquitectura para o debate ao longo deste romance, porque o livro é um romance - um romance de realidade ficcionada.
São eles, um farmacêutico, um médico, uma jornalista e um padre.
As religiões, os mitos, os poderes, as políticas, são escalpelizadas ao pormenor...
(continua)
A interpretação da criação literária, cabe obviamente ao leitor, norteando-se este pelo rumo traçado pelo escritor, embora nem sempre, um ou outro, seja coincidente.
Esta a meu ver, a grande magia da arte e da literatura em particular. Por isso ou talvez por isso, ninguém poderá opor-se ao interessante óbice, que é o de especular se a personagem tal, é aquele que conhecemos. Que o local que pisámos, estará ou não, em consonância com o que o autor criou. Isto porque em ficção literária, tudo ou quase tudo é permitido.
E são os factos em geral, e as pessoas em particular, que insipram e interessam a quem escreve, e a quem as descreve.
Isto para lhes dizer, que das personagens que fruem ao longo do livro "Sinais de Infinito - Realidades e Mitos do Nosso Tempo", por favor não vislumbrem semelhanças com o Dr. João Maria ou com o Dr. Trombas, ambos entendidos farmacêuticos, que viveram nesta cidade: o primeiro, guardador de memórias, maçónico assumido, humanista de quatro costados e homem dado a esoterismos. O segundo, arribado do Continente português, conhecido e admirado por toda a gente com quem diariamente convivia. Nem com Rosa, cozinheira por vocação , e mulher de todo o serviço, nascida ali para os lados da Areia Larga. Ou com o Dr. Silva, jovem médico do Hospital da Horta, inspirador de jovens como ex-atleta de eleição. Ou até com um certo bibliotecário displicente, calvo e anarquista, de nome Pedro de Oliveira, florentino, vivendo exilado nos arredores de Lisboa e pensando eternamente nos Açores. Nem com o sábio padre Ezequias, historiador emérito e pároco de uma igreja desta cidade, muito embora a inspiração exista e esteja lá para vos atormentar, e isto para lhes dizer apenas que não se escreve a partir do nada e que o autor parmanece (mais ou menos) escondido atrás daquilo que escreve.
Porque ao divagarem por este silencioso, delicioso, mas sempre enganoso caminho, poderão ter a sorte (ou sabe-se lá a pouca sorte), de se encontraram também retractados nalguma dessas personagens e no puzzle, que é o livro, tão características, desta pequena terra, personagens que de uma terra assim tão estreita, poderão também aspirar ao panteão dos universais.
Posto esta eviso à navegação, tentarei ser o mais breve possível.
Primeiro: para fugir à tentação de ser juíz em causa própria, algo que me incomoda. Depois, porque o meu velho e bom amigo V..., já o fez com a mestria que lhe conhecemos, talvez com a fasquia elevada, mas sempre de forma coerente e notável...
(...) É que os faialenses têm que aprender e fazer destas coisas, isto é, aprender a gostar de si e a ter presente, aquilo que vulgarmente se chama auto-estima, o que lhes está faltando.
E para a conseguir, é preciso começar a valorizar o que se fez ou o que por aí se vai humildemente fazendo...
A Temática
Como citei, não me cabe, nem me é aceitável especular, o que é, ou o que deveria ter sido o livro. Para tal, existem os ensaístas, homens que vivem escrevendo, bem e mal, de quem e do que se escreve, uma arte recorrente, mas dolorosa, neste país à beira mar plantado, e muito mais nestes Açores de raras leituras e mares por vezes encapelados.
Arte solitária, mas dolorosa a escrita, porque se perde tempo, às vezes dinheiro. Já agora caberia aqui lançar uma olhadela a editoras, distribuidoras e negócios subjacentes à escrita, o que não gosto, já que é misturar dinheiro com arte e cultura, assunto que acho duvidoso...
Optei por uma posição intermédia, a de Miguel Torga, autor de Bichos, que em vida curiosamente, sempre recorreu à solução de "edição de autor"...Ele sabia lá as linhas com que se cozia...
Este por exemplo roubou-me algum tempo (foi iniciado em 2004 e terminou em 2010) e como irão ver, isto é, se se aventurarem a lhe deitar os olhos em cima, mesmo recorrendo a uma certa engenharia gráfica, ultapassa as 420 páginas, incluindo gralhas e imprecisões, sempre presentes em obras desta natureza. E isto, ainda bem, porque perfeição e absoluto não existem, nas pessoas e muito menos nos livros, numa altura em que ela (a literatura) é vendida ao metro, tal como a linguiça dos "bons" e "saudosos" tempos...O velho adágio de que o óptimo é inimigo do bom, tem, mais uma vez, aqui o seu cabimento.
Uma nota curiosa: todo o trabalho gráfico, foi feito no Faial, o que dantes jamais acontecera com anteriores obras do autor.
O livro é uma narrativa de cunho documental e de realidade ficcionada, como aliás se diz no prefácio, apoiando-se o seu autor na memória e na história, e o producto a quem foi dada a oportunidade de nascer e de viver antes da maior guerra alguma vez presenciada, a Segunda Guerra Mundial, e a que terminou há bem pouco no Iraque, e digo isto, porque o livro questiona e explora esse tema, isto é, se a vida não será efémera e se não haverá a possibilidade de a viver mais, para poder também reflectir mais...E porque não, melhor.
E porque é um romance, o enredo começa numa certa manhã chuvosa de Setembro de 1998 no alto do cemitério do Carmo, junto ao "reducto" dos Dabney, com a baía da Horta a rebrilhar ao fundo, e termina uns anos mais tarde, na praia de Porto Pim, lugar mítico, como irão ver, no extremo sul da cidade, um binómio simbólico de Morte-Vida, a convidar à reflexão.
Fala-se muito do Faial e da Horta em particular. Das suas gentes, dos seus anseios e costumes, das suas tradições, e, sobretudo da sua história, (porque este livro, é um livro a pensar na história), que a Horta, honra lhe seja feita, tem para dar e vender. Mas não só: todos os Açores são envolvidos nessa trama e também o Continente português, sobretudo Lisboa. Depois salta-se para o Próximo e Médio Oriente, com a turbulência que se lhe conhece e o protagonismo político de alguns homens, como Bush, Blair, Sadame e outros.
E há todo um mundo que se agita e que aguarda a notícia de uma jornalista inglesa, jovem, bonita e famosa da BBC, de nome Harriet Terra Simpson, neta de uma personagem enigmática, que atravessa os dois últimos romances do autor ("Sismo na Madrugada" e "Sinais de Infinito"), de nome Quevedo, um faialense, que morre na Horta às garras do sismo de 1998. Mas atenção: não do sismo. E verão porquê; ele que atravessara várias guerras como repórter de guerra e que havia sobrevivido à fúria assassina do III Reich de Hitler, Goering e seus sequazes
Buscam-se memórias em Lisboa, Londres e Alexandria, (Egipto), e também um pouco por todo o mundo, seguindo as pisadas de Quevedo, esse avô misterioso e mítico, um avô que terá sido famoso no seu tempo, mas que é completamente desconhecido na terra onde nasceu. Mas o livro não se fica por aqui ou por mais esta ou aquela história. Porque o livro é História e também realidade, ora desfazendo mitos, ora recriando outros, e não só: é todo um vaivém e um questionar permanente, se valerá a pena viver ou viver assim, uma realidade sentida em cada personagem (cidadão anónimo) que surge e que desconhece a sua própria identidade e finalidade de viver.
E desse questionar surge outro homem, um homem que se identifica, não como o sublime producto da Criação, mas como o maior predador da Terra.
E é nesse sentido que o livro se articula. De como, depois de alcançar e conseguir as magias que lhe podem garantir a felicidade, ele consegue-a apenas artificalmente, mas sempre à custa da dor de uma, ou de outra vida, ou de mais um, ou de outro sacrificio do seu próprio semelhante.
Quatro ou cinco personagens constituem-se como arquitectura para o debate ao longo deste romance, porque o livro é um romance - um romance de realidade ficcionada.
São eles, um farmacêutico, um médico, uma jornalista e um padre.
As religiões, os mitos, os poderes, as políticas, são escalpelizadas ao pormenor...
(continua)
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