sábado, 5 de novembro de 2011

No Lançamento do livro "SINAIS DE INFINITO - Realidades e Mitos do Nosso Tempo" - Algumas palavras proferidas por HUMBERTO VICTOR MOURA - o Autor

Antes de proferir umas palavras, eu queria aqui deixar um breve esclarecimento.
A interpretação da criação literária, cabe obviamente ao leitor, norteando-se este  pelo rumo traçado pelo escritor, embora nem sempre, um ou outro, seja coincidente.
Esta a meu ver, a grande magia da arte e da literatura em particular. Por isso ou talvez por isso, ninguém poderá opor-se ao interessante óbice, que é o de especular se a personagem tal, é aquele  que conhecemos. Que o local que pisámos,  estará ou não, em consonância com o que o autor criou. Isto porque em ficção literária, tudo ou quase tudo é permitido.
E são os factos em geral, e as pessoas em particular, que insipram e interessam a quem escreve, e a quem as descreve.
Isto para lhes dizer, que das personagens que fruem ao longo do livro "Sinais de Infinito - Realidades e Mitos do Nosso Tempo", por favor não vislumbrem semelhanças com o Dr. João Maria ou com o Dr. Trombas, ambos entendidos farmacêuticos, que viveram nesta cidade: o primeiro, guardador de memórias, maçónico assumido, humanista de quatro costados e homem dado a esoterismos. O segundo, arribado do Continente português, conhecido e admirado por toda a gente com quem diariamente convivia. Nem com Rosa, cozinheira por vocação , e mulher de todo o serviço, nascida ali para os lados da Areia Larga. Ou com o Dr. Silva, jovem médico do Hospital da Horta, inspirador de jovens como ex-atleta de eleição. Ou até com um certo bibliotecário displicente, calvo e anarquista, de nome Pedro de Oliveira, florentino, vivendo exilado nos arredores de Lisboa e pensando eternamente nos Açores. Nem com o sábio padre Ezequias, historiador emérito e pároco de uma igreja desta cidade, muito embora a inspiração exista e esteja lá para vos atormentar, e isto para lhes dizer apenas que não se escreve a partir do nada e que o autor parmanece (mais ou menos) escondido atrás daquilo que escreve. 
Porque ao divagarem por este silencioso, delicioso, mas sempre  enganoso caminho, poderão ter a sorte (ou sabe-se lá a pouca sorte), de se encontraram também retractados nalguma dessas personagens e no puzzle, que é o livro, tão características, desta pequena terra, personagens que de uma terra assim  tão estreita, poderão também aspirar ao panteão dos universais.
Posto esta eviso à navegação, tentarei ser o mais breve possível.
Primeiro: para fugir à tentação de ser juíz em causa própria, algo que  me incomoda. Depois, porque o meu velho e bom amigo V..., já o fez com a mestria que lhe conhecemos, talvez com a fasquia elevada, mas sempre de forma coerente e notável...


(...) É que os faialenses têm que aprender e fazer destas coisas, isto é, aprender a gostar  de si e a ter presente, aquilo que vulgarmente se chama auto-estima, o que lhes está faltando. 
E para a conseguir, é preciso começar a valorizar o que se fez ou o que por aí se vai humildemente fazendo...


A Temática
Como citei, não me cabe, nem me é aceitável especular, o que é, ou o que deveria ter sido o livro. Para tal, existem os ensaístas, homens que vivem escrevendo, bem e mal, de quem e do que se escreve, uma arte recorrente, mas dolorosa,  neste país à beira mar plantado, e muito mais nestes Açores  de raras leituras e mares por vezes encapelados.
Arte solitária, mas dolorosa a escrita, porque se perde tempo, às vezes dinheiro. Já agora caberia aqui lançar uma olhadela a editoras, distribuidoras e negócios subjacentes à escrita, o que não gosto, já que é misturar dinheiro com arte e cultura,  assunto que acho duvidoso...
Optei por uma posição intermédia, a de Miguel Torga, autor de Bichos, que em vida curiosamente, sempre recorreu à solução de "edição de autor"...Ele sabia lá as linhas com que se cozia...
Este por exemplo roubou-me algum tempo (foi iniciado em 2004 e terminou em 2010) e como irão ver, isto é, se se aventurarem a lhe deitar os olhos em cima, mesmo recorrendo a uma certa engenharia gráfica, ultapassa as 420 páginas, incluindo  gralhas e imprecisões, sempre presentes em obras desta natureza. E isto, ainda bem, porque perfeição e absoluto não existem, nas pessoas e muito menos nos livros, numa altura em que ela (a literatura) é vendida ao metro, tal como a linguiça dos "bons" e "saudosos" tempos...O velho adágio de que o óptimo é inimigo do bom, tem, mais uma vez, aqui o seu cabimento.
Uma nota curiosa: todo o trabalho gráfico, foi feito no Faial, o que dantes jamais acontecera com anteriores obras do autor.
O livro é uma narrativa de cunho documental e de realidade ficcionada, como aliás se diz no prefácio, apoiando-se o seu autor na memória e na história, e o producto a quem foi dada a oportunidade de nascer e de viver antes da maior guerra alguma vez presenciada, a Segunda Guerra Mundial,  e a que terminou há bem pouco no Iraque, e digo isto, porque o livro questiona e explora esse tema, isto é, se a vida não será efémera e se não haverá a possibilidade de a viver mais,  para poder também reflectir mais...E porque não, melhor.
E porque é um romance, o enredo começa numa certa manhã chuvosa de Setembro de 1998 no alto do cemitério do Carmo, junto ao "reducto" dos Dabney, com a baía da Horta a rebrilhar ao fundo, e termina uns anos mais tarde, na praia de Porto Pim, lugar mítico, como irão ver, no extremo sul da cidade, um binómio simbólico de Morte-Vida, a convidar à reflexão.
Fala-se muito do Faial e da Horta em particular. Das suas gentes, dos seus anseios e costumes, das suas tradições, e, sobretudo da sua história, (porque este livro, é um livro a pensar na história), que a Horta, honra lhe seja feita, tem para dar e vender. Mas não só: todos os Açores são envolvidos nessa trama e também o Continente português, sobretudo Lisboa. Depois salta-se para o Próximo e Médio Oriente, com a turbulência que se lhe conhece e o protagonismo político de alguns homens, como Bush, Blair, Sadame e outros.
E há todo um mundo que se agita e que aguarda a notícia de uma jornalista inglesa, jovem,  bonita e famosa da BBC, de nome Harriet Terra Simpson, neta de uma personagem enigmática, que atravessa os dois últimos romances do autor ("Sismo na Madrugada" e "Sinais de Infinito"), de nome Quevedo, um faialense, que morre na Horta às garras do sismo de 1998. Mas atenção: não do sismo. E verão porquê; ele que atravessara várias guerras como repórter de guerra e que havia sobrevivido à fúria assassina do III Reich de Hitler, Goering e seus sequazes
Buscam-se memórias em Lisboa, Londres e Alexandria,  (Egipto), e também um pouco por todo o mundo, seguindo as pisadas de Quevedo, esse avô misterioso e mítico, um avô que terá sido famoso no seu tempo, mas que é completamente desconhecido na terra onde nasceu. Mas o livro não se fica por aqui ou por mais esta ou aquela história. Porque o livro é História e também realidade, ora desfazendo mitos, ora recriando outros, e não só: é todo um vaivém e um questionar permanente, se valerá a pena viver ou viver assim, uma realidade sentida em cada personagem (cidadão anónimo) que surge e que desconhece a sua própria identidade e finalidade de viver.
E  desse questionar  surge outro homem,  um homem que se identifica, não como o sublime producto da Criação, mas como o maior predador da Terra.
E é nesse sentido que o livro se articula. De como, depois de alcançar e conseguir as magias que lhe podem garantir a felicidade, ele consegue-a apenas artificalmente, mas sempre à custa da dor de uma, ou de outra vida, ou de mais um, ou de outro sacrificio do seu próprio semelhante.
Quatro ou cinco personagens constituem-se como  arquitectura para o debate ao longo deste romance, porque o livro é um romance - um romance de realidade ficcionada.
São eles, um farmacêutico, um médico, uma jornalista e um padre.
As religiões, os mitos, os poderes, as políticas, são escalpelizadas ao pormenor...
(continua)



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