quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O NON-SENSE OU AS VICISSITUDES DE UMA CRISE DE VALORES

Estamos em presença de um conturbado momento em que o ser humano ultrapassou já, deliberada, ostensiva  e escandalosamente, a barreira do minimamente  aceitável em termos de equilíbrio e de consciências, quanto à avaliação e/ou  à diferença que separa o bem do mal, o necessário do  útil,  o urgente  do acessório, sobretudo, e mais vincadamente, quando se tratam de decisões políticas, (as suas implicações e sequelas), o que  nos leva a pensar, que a insensatez e a loucura neste século,  não andarão por longe.
E é na área política sobretudo, que as evidências são mais notórias.
As eleições recentes nos Estados Unidos são a prova disso mesmo.
O slogan de uma personalidade (voltar a ser grande) com um discurso paupérrimo de conteúdo e saudosista, truculento e ignorante, a apelar   a tempos áureos de poder,  algo que já ouvimos a ditadores do século passado, surtiu efeito - deu para ganhar as eleições.
E isso  mesmo com menos de  três, a quatro milhões de votos, e contra todas as expectativas, até  das sondagens mais optimistas.
Quer isto dizer que,  o poder e a Democracia estão de pêsames, e isto no país mais poderoso da actualidade, os Estados Unidos da América.
É, em minha opinião, a decadência  do poder, da  política e da Democracia.
Aqui neste pequeno rincão florido, à beira mar plantado, -Portugal-, também certo tipo de insanidade, está a aflorar às hostes políticas. E veja-se este caso  da TSU.
Isto num país em que, nem só o salário mínimo é uma vergonha: onde é quase tudo uma vergonha.
Isto num país em que o salário mínimo, nem sequer é cumprido. Porque essa meia dúzia de euros de aumento, nada resolvem e levantam enormes problemas; isto porque o que tem um salário de 600 ou 700 ou mesmo mil euros, começa logo a "cuspir", dizendo que tem mais qualificação, que paga  mais impostos, que  vai ao hospital e tem de puxar pela certeira enquanto o outro não.
Outros "cantam", que não tarda muito,  que estejamos todos no salário mínimo nacional, se houver dinheiro para tal.
Mas o mais ridículo, incoerente, e destituído de qualquer sentido (que não o político), é ver-se um PSD, um partido aliado do patronato, votar ao lado do Bloco de Esquerda e do PCP, partidos de convicções fortes, mas que em termos de estabilidade da governação, não sabem, nem querem lidar com ela e que são até nessa matéria, antagónicos.
Resumindo: Quanto à eleição americana: um homem da construção civil, ignorante,  arrogante e impreparado (para não utilizar outros adjectivos), com discurso de híbrido de capataz em pre-reforma, é eleito  Presidente da mais poderosa nação da Terra.
Por cá, um Partido claramente neo-liberal (o que é favor), vota contra  uma "regalia" para o patronato.
A isto chama-se no mínimo "non-sense".
Eu diria que é loucura mesmo...






terça-feira, 10 de janeiro de 2017

UMA OPINIÃO

Quem por acaso, ou por outra "obra" menos edificante, me tem acompanhado "nos escritos"que produzo, à revelia do ócio,  do "demo" ou de outra "quinquilharia"  qualquer, sabe como não sou grande apreciador daquilo que se convencionou chamar  "homenagem". Num dos meus opúsculos, uma das personagens, recusa-a simplesmente, alegando que há (e  há sempre mais gente a merecê-la ), embora fosse homem de lutas e de riscos  e merecimentos mil. Isto para dizer, que não discordo das homenagens em si, quando elas são merecidas. Quanto a Soares, concordo totalmente. Ele enfrentou o regime, (embora aí tenha alguma dificuldade, em saber o que era enfrentar o regime e também o que era medo), porque afinal,  cheguei a tê-lo.
Escrevia nos jornais, tinha família, "beneficiava" de um emprego público,  também ele sujeito a imposições em matéria de colaboração com jornais visto ser nas telecomunicações . Mas continuei e (embora digam que o Mário Soares nunca teve medo) não acredito. O medo existia; andava no ar e descia à terra... E como anteriormente citei, eu próprio o tive algumas vezes. Mas isso de defender princípios e causas, é uma mania como outra qualquer.Por isso, esta homenagem a Soares, (embora ele tenha mais uns anos do que eu, e   tenha alguma dificuldade em falar sobre assunto,   já que faço parte desse tempo), entendo-a perfeitamente. O medo havia, e era algo respeitável. Se  o cidadão não se "manifestava", vivia em "santidade" mesmo que houvesse janelas a caírem. Era uma espécie (perdoem-me  o "pleonasmo", de remanso, à beira do fosso. Se pisasse risco,  aí sim, era o diabo...
Isto que fizeram ao Mário Soares em termos de reconhecimento, está  bem.  Porque é algo que faz bem ao amor próprio das pessoas,   à alma das gentes, do país, ou/e aos locais que produzem essa gente. E valorizar não faz mal. O único mal, é que grande parte desse "onus", só aos políticos é consagrado . E  há por aí tanta gente, com tantas, ou mais valias.. E esperar a morte, também é uma forma, no mínimo esquisita, de manifestar um reconhecimento. Afinal e resumindo, acho que se deveria reconstruir ou talvez reconquistuir essa ideia de reconhecimento dos cidadãos aos que   aos  que o
mereçam. Não fica, nem faz mal a ninguém. Bem pelo contrario.

Politico, homem de luta, da Liberdade e da Democracia

Homem da Liberdade,  da Democracia,  e  da política. Assim foi Mário Soares, um laico, republicano, (por vezes até se mostrou controverso nessa matéria), um adversário ferrenho do regime Salazarista, um regime que metia e meteu medo, principalmente a quem discordava dos ditames desse mesmo regime.
Mário Soares encarnou  porventura uma maioria silenciosa, que desejava dar corpo ao seu pensamento e à sua palavra. Poder fazer valer da sua condição de cidadão, para  votar livremente, e não apenas elogiar a (obra), mas criticar também. Ter direito  à participação, à reunião, ao pensamento individual e colectivo.
Mário também sentiu esse medo, mas combateu-o, e lutou para  eliminar e conseguiu-o.
 Homenagear  Mário Soares, é fazê-lo em nome de todos os cidadãos que arriscaram para que essa liberdade fosse uma realidade, através sobretudo da escrita, toda ela controlada pela censura do regime, que dissecava, períodos e páginas, procurando, fosse o que fosse,  mesmo que esse fosse, fosse
a "agulha no palheiro".
É esse o grande mérito de Soares. Dar voz aos muitos que morreram e que  porventura não alcançaram essa sorte ou esse consolo. E esse consolo e essa sorte, tem um nome: L I B E R D A D E e ter ou possuir a alegria de a ter perto e usufruir dela, de forma positiva e respeitosa.