Um dia, dedicado exclusivamente aos amigos (humanos), esta quinta-feira, o que é necessário, e sobejamente pouco. Mas antes pouco, do que nada. E isto para dizer, que os amigos fazem parte do nosso quotidiano, do nosso dia-a-dia e da nossa vida. E isto para dizer, que quando são amigos DE VERDADE, estão sempre connosco, nos bons e sobretudo, nos maus momentos. Isto para dizer, que quando involuntária e impiedosamente, lhes chega a hora de nos deixarem para sempre, deixam-nos também, muita saudade e muita solidão.
Alguém, que é, um velho amigo, disse-me recentemente algo que continuo pensando tentando entender, quanto à perda sem remédio dos que partiram e eram nossos amigos, que nos acompanharam por este trajecto, por vezes triste, sinuoso e difícil, que se chama vida; disse-me, vejam só, que eu não tinha razão, nem se calhar legitimidade para me queixar, porque tinha ainda muitos amigos. E à guisa, de graça ou talvez não, se calhar ironia ou provocação, repetiu, que o que eu afinal não era, "era amigo de ninguém".
E por aí me fiquei, sem olhar ao trabalho do contraditório, quiçá desnecessário para quem bem me conhece, e que era o caso, mais um para relevar, mas em democracia, cada qual tem (ou terá) o direito de dizer e de pensar o que lhe aprouver, mesmo que para tal exagere ou não consiga provar o que disse.
E para esclarecer e à guisa de resposta, lhe e vos digo : a minha amizade é direccionada à vida, toda ela. Nem concedo excepções, a não ser obviamente, algumas prioridades: primeiro, a família, depois os amigos, a seguir os humanos e tudo o que se agite à volta e faça parte desta grande e incomensurável panóplia e família, que é a Natureza e a Vida.
Por curiosidade, amigos de duas patas foram tantos que lhes perdi a conta ou nunca os contei. De quatro patas, gatos e cães, foram às dezenas, os mesmos que me nasceram e morreram nas mãos e tive de os fazer as moradas, algumas de lágrima no olho..
Pássaros, continuo-os alimentando: inicialmente, pensando que se o fizesse, me deixariam em paz as uvas, as ameixas e os pêssegos. Em vão. E tal o hábito, que passados tantos anos, se tornaram também família, exigente quanto a horários da papa, e com alguém sempre pronto por trás da janela da cozinha, e alertar para a falta. Tempos houve, em que os mais afoites entravam. Um pisco apresentou-me mesmo à família. Outro andava sempre sentado, tinha de lhe levar o rancho mais perto. Só muito mais tarde descobri que tinha apenas uma perna. É isso. A Natureza tem as suas surpresas; umas boas, outras assim-assim. Afinal e melhor pensando, a Mão que os semeou por cá foi a mesma que nos trouxe, se calhar com
mais sorte.