segunda-feira, 27 de novembro de 2017

O MISTÉRIO

Diz-se que Agostinho, alguém que a igreja entendeu mandar canonizar e "promover" a santo, afinal  o seu grande e  maior pensador, terá certa vez, junto a uma praia deserta, presenciado uma cena que lhe despertou alguma curiosidade, se não mesmo, intrigado: era uma criança, que ia e vinha do mar, com enorme afã,  trazendo uma pequena vasilha  e depositando o seu conteúdo numa pequena cova, que na praia com carinho fizera.
Agostinho não se coibira, como homem inteligente, culto e conselheiro que era,  de lhe segredar:
- Então?   Se é encher a cova de água, isso o que desejas, nunca o irás  conseguir.
A criança bela e loira, de uma estranha formosura, interrompendo por instantes a sua tarefa, olhou-o demoradamente, olhos nos olhos, e apenas lhe disse:
- Estou fazendo, exactamente o que estás pensando.
Esta a forma encontrada e a resposta adequada, para muito do que nos rodeia, daquilo que no nosso histórico se vai passando, daquilo que encontramos no dia-a-dia, daquilo que  nos parece estranho, misterioso, injusto, até falho de sentido.
Aquilo, que por mais que  pensemos, meditemos, ou exigimos do nosso mais profundo e intimo   pensamento, não conseguimos desvendar ou sequer entender. Chamam-lhe genericamente  "mistério",  uma forma simplista de o assinalar, afinal uma palavra que no léxico normal, serve para rotular tudo aquilo que não entendemos, não alcançamos, não conseguimos nem encontramos forma de decifrar e muito menos solucionar.
E os mistérios tomam "nuances", revestem-se de princípios e até cobrem-se de rótulos. Há os "santos mistérios", os quiçá mais "credíveis" e até famosos. E há os outros.
Todos deixando muitas dúvidas. Uns porque não têm cobertura cientifica. Outros produto de milhares de gerações, vividas na ignorância, na intimidação e no medo. Algumas, porque não são possíveis de abordar, admitindo até, que a mente humana é incapaz de o conseguir.
Estará nesse substrato, a origem da vida e "utilidade" da morte, a última a revelar-se um contrassenso, ou uma "estimável" aberração.
Viver para sempre ou até que necessário, útil, ou comummente desejável, deveria ser o trajeto  comum e ideal da VIDA. O contrário é, em minha opinião, uma falência e um erro. Morrer, é, embora da Vida fazendo parte, é a grande falência para a maior magia que a Natureza alguma vez criou. Uma falência apenas substituída por outra - a memória-, esta mais efémera que agudiza ainda mais a necessidade de a reavivar, mas que não substitui a de reviver.
Uma necessidade dolorosa, porque também ela inerte e morta.
E o grande mistério continua sendo, porque se vive e pior ainda, porque se morre.







Sem comentários:

Enviar um comentário