sábado, 25 de abril de 2020

O 25 DE ABRIL HÁ 46 ANOS

24 de Abril de 1974 -  UMA NOTA - de ontem, para ser lido hoje.

Algumas pessoas, (não muitas), estavam reunidas numa sala do Hotel Faial pela 20H00 do dia 24 de Abril de 1974 e isto, porque havia sido programado o encerramento de um Curso de Relações Públicas e de outos, dirigidos pelo Dr. Taborda, professor de Relações Públicas, (e que tinha a particularidade de ser  sogro do Dr. Jaime Gama), que se deslocara aos Açores, para ministrar alguns cursos intensivos, em diversas áreas. Eu era um desses alunos em Relações Públicas.
Presentes estavam também,  o Governador Civil da Horta, na altura, o Dr. Sanches Branco, que fora Diretor da Alfandega e outras entidades convidadas, como o Presidente da Camara.
No que concerne ao autor  desta nota, como tema,  foi proposto na altura,  o de um hipotético "golpe de Estado",  e que competiria ao gabinete de Relações Públicas esclarecer na comunicação social.
Encetaram-se as primeiras palavras, mas eis que surge um telefonema "lá de fora" , (o "lá fora, identificava-se no tempo,  com Lisboa),  a que o Governador presente, o Dr. Sanches Branco, foi solicitado de imediato, a atender.
O mesmo regressou pouco  depois, mas a sessão foi interrompida,  alegando-se ser já  tarde para a continuar.
Hoje passados que são, 46 anos, fico perplexo com tal coincidência. Isto porque nunca me perpassara minimamente pela cabeça, nem a ninguém que eu saiba, que  um golpe de Estado acontecesse, embora tivesse um velado conhecimento, de que as forças armadas, (das quais eu próprio fizera parte alguns anos antes), estariam descontentes. A erosão era grande, com a Guerra do Ultramar e "ceifar" muita gente, tornara-se quiçá,  impossível  continuar, por várias razoes, incluindo o cansaço gerado pelos anos e pela conjuntura  internacional, que se mostrara acirradamente desfavorável nos últimos tempos.
Mas acontecer, de um dia para o outro, ninguém o pensara.
Durante a noite estive trabalhando na Estação Telegráfica da Horta, (vulgo Telégrafo), que, dia e noite, assegurava as comunicações da ilha e das ilhas entre si,  com o exterior, e à qual estavam ligadas as ilhas  do Pico, Flores e Corvo, mais tarde S. Jorge, das 00H00 as 08H00 da manha. Uma noite (a do 25 de Abril), calma, como habitualmente, já que as Companhias Cabo gráficas, que traziam algum trafego no período da noite, devido às diferenças horarias), já tinham encerrado.
Ao sair pela manhã da Estação, atravessei a cidade como sempre, a pé pela , Rua Conselheiro de Medeiros, para o lado poente da cidade, que se mantinha adormecida e calma como sempre. Subi depois  a Rua Cônsul Dabney, na qual se destacavam a  "Trinity House", a sede operacional das três mais importantes estações das antigas Companhias  e mais ao cimo, a Radio Naval da Horta,,  (a Horta curiosamente, fora um símbolo na senda das Telecomunicações do seu tempo, até o jornal "O Telégrafo ", fora  iniciado em 1893,  e iniciado sob a égide das Telecomunicações  e da grande invenção e avanço tecnológico  nessas mesmas telecomunicações, o Telégrafo por Cabo, mais tarde "destronado" pelo " Sem fio" Wireless em inglês, e também vulgarmente  chamado Rádio ou Telegrafia Sem Fios - TSF,   o próprio nome o confirma,) e foi ao passar pela casa do meu velho amigo, Jaime Batista, professor, e jornalista pelas horas vagas, como eu,  homem dos jornais e com um familiar,  que se tornara "famoso" por algum desassombro no seu tempo, de nome  Nico Baptista,  ao passar e ainda antes de chegar à Radio Naval,    que me pôs ao corrente da situação e o que sabia. E  se eu por acaso sabia? Sabia o quê? Houve "qualquer coisa lá por fora... Não sabia explicar bem, mas  não excluía a ideia de "um golpe militar", um golpe  das forças armadas.
Foi assim que eu soube da Revolução de Abril.
Dias mais tarde, escrevi um artigo sobre essa mesma  situação, em artigo de fundo de o Jornal "O Telegrafo"  que foi transcrito por vários jornais e emissoras da Região, isto por ter sido nos Açores, o primeiro, a Falar de Abril.
Rogério Gonçalves chamou-me à Redação e  exultava. Mais uma vez, o jornal que ele dirigia "O Telegrafo" e a Horta em particular, estavam na linha da frente: da opinião e da noticia. Era uma homem que levava as coisas a sério, e também de certo modo,  um "aristocrata" da pena
Vão já cinquenta anos.
E hoje temos ainda  o 25 de Abril. Não temos já, é o Jornal "O Telegrafo", que ultrapassara os Cem anos de existência, nem os  amigos, Jaime Batista e Rogério Gonçalves. E muitos outros que foram caindo na vala do esquecimento, e derramados em outra, ali para os lados da meia encosta,  no cimo da cidade, uma colina  de saudade, que acolhe indiscriminadamente todos no fim das suas existências, mas n~~ao os impede de perpetuar a bela vista da baia e do Magnificente Pico, que se lhe  ergue pela frente.









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