O outro dia, um rapaz amigo, (rapaz não, homem, homem também não, velho e amigo), deu-me a noticia, que nem era já notícia;
-Sabes quem faleceu?
- Não, disse-lhe. Se calhar, vou adivinhar. O José?
- Qual José que estás pensando?
Fiquei a deambular pelo escuro: Josés há tantos de facto...
Ele logo se antecipou.
- É pá: O José Silva.
A confusão continuou, surda, muda, redonda, "matreira", e o resultado foi mais um naco de silêncio: foi alguém, logo pensei, que nos deixou. Que desapareceu , sem deixar rasto. Que sofreu, que andou por aí. Que chegou "cá", tal como eu, " nu, descalço e pontapé no cu... (perdoem lá a rudeza, mas às vezes é "preciso"...
E comecei a pensar no que é e como se comporta "tudo isto", e sobretudo como funciona. Ou se funciona?
E recordei o Fernando Pessoa, que só agora é recordado, talvez por um rebate de consciência, por ter dito "algumas verdades, mesmo que confusas para muitos," naquele tempo", em que também ele, era "pequenino", como tanto ele gostava, e "gozava" dizer, "eles mandam no mundo, e nós somos o mundo", ele que era um humilde "empregadote" de escritório, na rua dos Douradores, terceiro andar, com um Patrão, alegre e rubicundo, sabido e oportuno, vivendo o negócio dos números e dos lucros, por fora e por dentro.
E que olhava os seus pares, como vitimas da própria vida ou da sua inteligência ou falta dela.
E recordei quem poderia ser ou ter sido, o tal José. Ou o tal Silva.
Os Josés e/ou os Silvas, qual a "sina", que lhes coubera em sorte?
E olhei o mundo mais ao perto. A tal Rua dos Douradores, dos Mercadores, dos Sofredores. dos Mártires da Pátria ou dos Mártires, sem ela.
E pensei: Também fui "empregadote" de escritório, numa Rua parecida, mas sem douradores. Cruzei dias e noites, com gente em busca de nadas, na esperança do nadas.
Gente afinal que nasceu morta, e morreu viva, aguardando a gentileza ou alguma deferência ou até compreensão, numa hora sem data e sem fim, como esta.
E que morreu, sem que isso acontecesse
Ou, como no caso do Pessoa, retalhos "loucos" que nos deixou de prosa, que chegaram e ficaram, que deixaram memória saudosa, não de felicidade, mas tristeza, o que afinal nos deixou bem claro, que o homem, qualquer homem, não é assim tão pequeno, como é suposto, mais ainda quando tem a ombridade de se achar como tal, isto é, pequeno, porque é aí que ele se engrandece, enrobustece e até cresce.
E a palavra certa, é humildade, afinal toda a pedra e toda a lava de que somos feitos, não mais do que isso:
barro e calhau rolado.
Sem comentários:
Enviar um comentário